OCUPAR É RESISTIR

“Sobrenome Borell
        Era apenas um prédio qualquer, onde muitas histórias vivenciamos, mas ainda era um prediozinho meio sem graça, onde passamos muito tempo frequentando.
        Mas em certo momento, vimos que ele estava sendo parte fundamental de nossa história e de quem somos.
        Então veio a nossa primeira noite, as coisas começaram a mudar, estávamos unidos, fortes, começamos a compartilhar tudo, desde colchões, cobertores, até mesmo nossas histórias e nossos corações.
        As refeições não eram mais apenas momentos para se alimentar, tornaram-se momentos para contar algo que aconteceu durante a ronda, a limpeza, o preparo das refeições e o que houve durante as oficinas - e aulões -, o que não estávamos percebendo era que vivenciávamos momentos de família.
       A pior parte era deixar o nosso novo lar, para voltarmos para casa, o coração apertava, a preocupação com os novos irmãozinhos angustiava, nas mensagens em grupo sempre surgia as perguntas “Como vocês estão? Está tudo bem? Precisam de alguma coisa?”.
      E de mansinho os laços foram se tornando mais fortes, amizades nasceram e outras cresceram.
     Sabe aquele prediozinho qualquer? Ele tornou-se nosso lar, um dos melhores lugares para estar entre amigos.
     O salão nunca mais será o mesmo, pois nele vivenciávamos grandes momentos, da alegria ao medo, dos risos aos choros.
     Quando o sinal soar, juntos recordaremos os momentos de união, os risos, as piadas e a história que juntos começamos a construir.
      Lágrimas foram divididas, sorrisos proporcionados, medos compartilhados e uma grande família foi formada.
     Assim, será até depois do fim de nossa luta, juntos carregaremos com orgulho nosso sobrenome invisível, Borell.”
O texto acima foi escrito pela estudante secundarista Larissa de Oliveira, uma das ocupantes do Colégio Professor João Ricardo Von Borell du Vernay, em Ponta Grossa, Paraná. Larissa relata a experiência pessoal que os alunos provaram no tempo que passaram juntos, ocupando, lutando e resistindo no colégio. Sim, resistindo. Porque ocupar é resistir. Em todos os sentidos. Resistir as fortes críticas midiáticas e da própria comunidade, inclusive de muitos da própria escola – pela qual o movimento luta. Resistir ao sofrimento do próprio ‘ocupar’, uma vez que sair do conforto de casa e mudar-se para um colégio, não é a melhor coisa do mundo; depender de doações para a alimentação, passar as noites dormindo em colchões acomodados no chão de uma sala, organizar agenda de atividades (aulões e oficinas), organizar a limpeza, organizar a cozinha, organizar isso e aquilo. Aguentar o esgotamento físico e emocional diário. R-E-S-I-S-T-I-R. Para tanto, foi necessário muita força e união, e isso é bonito de se ver: a dor os transformou em pleno amor. Politizados e cientes do que estavam fazendo, engajaram-se à luta do forte movimento estudantil principalmente contra a Medida Provisória nº746/2016, que reformula o atual Ensino Médio. Ocupado desde o dia treze de outubro deste ano até o dia vinte e seis do mesmo mês, o Colégio Borell foi palco de um movimento que fez jus ao seu “sobrenome invisível”, demonstrando garra e responsabilidade, justiça e muita aprendizagem: seja ela política, cidadã, pedagógica ou simplesmente pessoal, pois união, gratidão e empatia, também é formação.
Figura 1. Oficina de pintura realizada durante a ocupação.
Fonte: Imagem disponibilizada pelos estudantes.  

Figura 2. Cronograma das refeições durante a ocupação.
Fonte: Imagem disponibilizada pelos estudantes. 

Figura 3. Frente do Colégio Borell durante a ocupação.
Fonte: Imagem disponibilizada pelos estudantes. 

Texto redigido por: Isabela Cogo.
Colaboração: Lucas Teixeira e Larissa de Oliveira (estudante secundarista).
Publicado por: Isabela Cogo.

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